Repórter do New York Times, Charles Duhigg dedica-se a estudar hábitos - tema da matéria de capa da Galileu de junho. Em entrevista para a Galileu ele fala sobre como nossas manias se formam e explica o que a ciência ainda não sabe sobre como podemos mudá-lo.
O que o levou a escrever sobre hábitos?
Fiquei interessado há oito anos como repórter em Bagdá. Lá eu soube
sobre um major que conduzira um experimento na pequena cidade de Kufa. O major
havia analisado videotapes de motins e descobriu que a violência sempre era
precedida de uma multidão de iraquianos reunidos em uma praça que ia crescendo
de tamanho com o passar das horas. Vendedores de comida apareciam também, assim
como curiosos. Até que alguém jogava a primeira pedra ou garrafa. O major
encontrar o prefeito de Kufa e pediu se ele podia retirar da praça os
vendedores de comida. O prefeito disse que sim. Poucas semanas depois, uma
multidão se reuniu em volta da grande mesquita de Kufa. Alguns começaram a
gritar palavras de ordem. Ao anoitecer, começaram a ficar cansadas e famintas.
Como não tinha vendedores de kebab em volta, os curiosos foram embora. Os
manifestantes ficaram sozinhos. Às 20h, todos tinham ido embora. Perguntei ao
major como ele tinha descoberto que a retirada dos vendedores de comida ira
mudar o comportamento da multidão. Ele respondeu: as Forças Armadas são um dos
maiores experimentos de formação de hábito da história. “Entender os hábitos é
a coisa mais importante que aprendi no Exército”, ele disse. Quando voltei aos
EUA, mergulhei no tema.
A pesquisa fez você substituir hábitos ruins? Você ensinou sua mulher e
filhos a respeito de como empreender a mudança também?
Desde quando eu comecei a trabalhar no livro, transformei meus próprios
hábitos. Eu perdi mais de 13,6kg, corro dia sim dia não (estou treinando para a
maratona de Nova York no final do ano) e estou muito mais produtivo. E a razão
disso é que aprendi a diagnosticar meus hábitos e a mudá-los. Por exemplo: eu
tinha o hábito de comer um cookie todas as tardes. Depois de analisar esse
hábito, eu descobri que a razão que me levava até a cafeteria não era a
necessidade de comer um cookie. Era porque eu tinha necessidade de socializar
com os amigos. Essa era a verdadeira recompensa do hábito. E o gatilho que me
levava até o bar era uma determinada hora da tarde. Então, refiz o hábito:
agora, pelas 15h30, eu levanto da minha mesa, olho ao redor para procurar
alguém com quem conversar e jogo conversa fora por 10 minutos. Nem consigo
pensar mais sobre isso hoje. É automático. É um hábito. E não como um cookie há
seis meses.
O que a ciência ainda não sabe sobre a mudança de hábito?
Uma coisa que ainda não sabemos é por que algumas pessoas conseguem
mudar depois de um tempo tentando e tendo recaídas. Alguma coisa parece mudar
psicologicamente, e elas se tornam capazes de fazer as mudanças para valer.
Existem algumas hipóteses para isso. Alguns hábitos são chamados de “hábitos
mestres” (“keystone habits”) - que são capazes de desencadear uma série de
reações no modo da pessoa organizar sua própria vida. Um bom exemplo de um
hábito mestre é o exercício. Quando as pessoas começam a se exercitar
regularmente, elas começar a mudar outros comportamentos que não estão
relacionados à atividade física. Geralmente, elas passam a comer melhor e a
levantar da cama mais cedo. Fumam menos e se tornam mais pacientes. Usam menos
o cartão de crédito e se sentem menos estressadas. Mas não está completamente
claro porque isso ocorre. Mas para muitas pessoas, o exercício é um hábito
mestre, que torna propaga a mudança de vida a todos os aspectos da vida.
Fonte: Revista Galileu
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