Um artigo publicado no "New England
Journal of Medicine" que elenca mitos e fatos sobre obesidade e
emagrecimento está causando controvérsia nos EUA.
David Allison, diretor do centro de pesquisas
de nutrição e obesidade da Universidade do Alabama, e colegas apresentam uma
lista com sete mitos, seis pressupostos não comprovados e nove fatos sobre a
obesidade.
Entre os mitos e conceitos não provados estão
as ideias de que aulas de Educação Física têm efeito no emagrecimento de
crianças obesas, de que amamentação evita o problema e que os obesos devem
evitar dietas radicais.
Entre os fatos está o poder de remédios
emagrecedores, cirurgias bariátricas e de programas que oferecem refeições
prontas ou substitutos na perda de peso.
Os especialistas em obesidade aplaudiram esse
esforço de desfazer confusões em torno da obesidade. Para eles, essa área vem
se tornando um atoleiro.
O pesquisador de obesidade Jeffrey Friedman,
da Universidade Rockefeller, disse: "A meu ver, há mais desinformação
fazendo-se passar por verdade neste campo que em qualquer outro".
Mas pesquisadores independentes dizem que,
apesar de apontarem informações válidas, os autores têm ligações financeiras
com empresas de alimentos, bebidas e fabricantes de produtos para emagrecer.
A lista de declaração de conflito de
interesses ocupa quase meia página do artigo.
"Isso levanta dúvidas sobre o propósito
do artigo e se ele mira a promoção de medicamentos, produtos que substituem
refeições e cirurgias bariátricas como a solução", afirmou Marion Nestle,
professora da Universidade de Nova York.
"A grande questão na perda de peso é
como você muda o ambiente ligado à comida para que as pessoas façam escolhas
saudáveis."
MÉTODO
David Allison queria saber o que já está
comprovado em relação à obesidade.
Uma ideia tida como verdadeira, por exemplo,
é que as pessoas que tomam café da manhã são mais magras.
Mas essa noção é baseada em estudos feitos
com pessoas que já tomavam café da manhã. Dois estudos que separaram as pessoas
em grupos e avaliaram o impacto de comer ou não de manhã não mostraram o efeito
emagrecedor da primeira refeição.
Portanto, indaga Allison, por que os
pesquisadores continuam fazendo estudos que se limitam a relacionar magreza e
café da manhã?
"Todo esse tempo e esforço são
desperdiçados."
Outro problema com as pesquisas sobre
obesidade é que elas tendem a assumir como verdadeira a opção que parece ser
mais razoável.
Um exemplo disso é a ideia de que as pessoas
que seguem programas de emagrecimento se saem melhor quando definem metas
conservadoras em vez de tentar perder um percentual grande do peso corporal.
Mas, quando ele examinou os estudos sobre
emagrecimento, não achou nenhum vínculo consistente entre o grau de ambição da
meta e quanto peso foi perdido, nem por quanto tempo a perda de peso tinha sido
mantida.
Para Allison, cabe aos cientistas mudar seus
hábitos. "Precisamos fazer estudos rigorosos", afirmou.
"Eu nunca disse que temos que aguardar
até termos o conhecimento perfeito", ele concluiu. Mas, nas palavras de
John Lennon, "me dê alguma verdade".
Fonte: Folha de São Paulo
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